Deputado
federal é réu por apologia do crime. Defesa de Bolsonaro argumentou que uma
censura do STF ao congressista colocaria em xeque a liberdade de manifestação
Em meio às discussões sobre a cultura do estupro
enraizada na população brasileira, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF)
acolheu nesta terça-feira, por quatro votos a um, denúncia contra o deputado
federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e o transformou em réu por apologia do crime. Em
um ataque inaceitável à deputada petista Maria do Rosário (PT-RS) em dezembro
de 2014, Bolsonaro havia afirmado que não estupraria a parlamentar "porque
ela não merece".
O discurso do deputado, que abre caminho para a
esdrúxula interpretação que existem mulheres que "merecem" sofrer
violência sexual, não foi incluído no guarda-chuva da imunidade parlamentar. O
Código Penal prevê, em caso de condenação, de três a seis meses de detenção ou
multa. Na mesma sessão, o Supremo recebeu queixa-crime contra o deputado por
injúria. "Imunidade não é impunidade", resumiu a ministra Rosa Weber.
No julgamento, o relator do caso, ministro Luiz Fux,
fez um duro discurso contra a manifestação de Bolsonaro, desculpou-se por ter
de relatar os ataques aos demais integrantes do STF e completou: "A
violência sexual é um processo consciente de intimidação pelo qual as mulheres
são mantidas em estado de medo".
A defesa de Bolsonaro tentou argumentar que os
impropérios do deputado não seriam incitação ao crime de estupro e disse que
uma censura do STF ao congressista colocaria em xeque a liberdade de
manifestação.
Em agosto do ano passado, Jair Bolsonaro já havia
sido condenado pela juíza Tatiana Dias da Silva, da 18ª Vara Cível de Brasília,
a pagar 10.000 reais a Maria do Rosário por conta do episódio.
O
caso - Em dezembro
de 2014, Bolsonaro irritou-se após Maria do Rosário fazer um pronunciamento
condenando a ditadura militar, classificada por ela de "vergonha
absoluta". "O Brasil, ao longo do último período, encontrou o seu
próprio caminho para registrar a memória, a verdade e o caminho da justiça,
para de fato enfrentar o que foi a vergonha absoluta da ditadura militar. A
ditadura teve os seus prepostos, teve homens e mulheres também que se colocaram
de joelhos diante dela para servirem ao interesse dela, da morte, ao interesse
de fazer o desaparecimento forçado, o sequestro", disse.
Bolsonaro respondeu: "A Maria do Rosário saiu
daqui agora correndo. Por que não falou da sua chefe, Dilma Rousseff, cujo
primeiro marido sequestrou um avião e foi para Cuba e participou da execução do
major alemão? Maria do Rosário, por que não falou sobre sequestro, tortura,
execução do Prefeito Celso Daniel, do PT?", disse. Em seguida, o deputado
elevou o tom: "Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Há poucos dias você
me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não a estuprava porque
você não merece. Fique aqui para ouvir".
Em entrevista ao jornal Zero
Hora, Bolsonaro também afirmara: "Ela [Maria do Rosário] não
merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero,
jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar,
porque não merece".
O Ministério Público reagiu. "Ao afirmar o
estupro como prática possível, só obstado, para a deputada Maria do Rosário,
'porque ela é muito feia', o denunciado abalou a sensação coletiva de segurança
e tranquilidade, garantida pela ordem jurídica a todas as mulheres, de que não
serão vítimas de estupro porque tal prática é coibida pela legislação penal. Ao
dizer que não estupraria a Deputada porque ela não 'merece', o denunciado
instigou, com suas palavras, que um homem pode estuprar uma mulher que escolha
e que ele entenda ser merecedora do estupro", criticou a
vice-procuradora-geral da República Ela Wiecko, autora da denúncia.
Em nota, a deputada Maria do Rosário disse que
"em um país em que a cada onze minutos é cometido um estupro, e em que nos
deparamos cotidianamente com crimes atrozes contra a dignidade sexual, é
fundamental combater a cultura do estupro e para tal a decisão do dia de hoje é
um passo extremamente importante nesta caminhada".
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